terça-feira, 8 de setembro de 2009

O novo queridinho da ciência

Aquele renegado durante anos como um "simples" pombo correio de mensagens codificadas, ou, usando uma vestimenta diferente, atuando como maquinaria tradutora de códons, o ácido ribonucléico (RNA) hoje está nos spotlights da ciência, virando a vedete da terapia gênica e da decodificação funcional de genomas.

O chamado RNA de interferência (RNAi) foi descoberto em petúnias, relativamente por acaso. Acabou sendo descrito, com o passar dos anos, como uma importante maquinaria de regulação da expressão gênica em células animais, vegetais e de fungos.Esta "espécie" de RNA inicia seu caminho como um double strand RNA (dsRNA), proveniente de regiões do genoma, de elementos genéticos móveis ou ainda de vírus. Esta fita dupla de RNA é então clivada por uma enzima RNase conhecida como Dicer, liberando os chamados siRNA (short interference RNA). Cada um destes, por sua vez, são englobados por um complexo de proteínas conhecido como Risc (Complexo de Silenciamento Induzido por RNA). No desenrolar do processo, fica apenas uma das fitas do siRNA dentro do Risc, e ele então sai à cata de mRNAs que estejam dando sopa pelo citoplasma, e que sejam homólogos à sequência do siRNA.
Se o mRNA e o siRNA do Risc forem quase identicamente complementares, o Risc, sem dó nem piedade, destroça esse mRNA, impedindo que ele venha ser traduzido por ribossomos em proteínas ativas. Ou, se o match não for tão perfeito, o Risc emperra os ribossomos no mRNA, impedindo a tradução de qualquer forma.

Uma via tão interessante como essa acabou se mostrando extremamente eficaz em diversos estudos sendo desenvolvidos ao redor do mundo. A ferramenta pode ser utilizada, por exemplo, para observar as vias funcionais de genes específicos, que podem ter seu mRNA silenciado por um RNAi exógeno (sintetizado de diversas formas possíveis), e, assim, o efeito de sua não-expressão pode ser verificado em fenótipos a diferentes níveis de observação.
Outra aplicação interessante é a própria terapia gênica, uma vez que, sabendo-se quais os genes envolvidos no desenvolvimento de alguma doença (o próprio câncer, por exemplo), pode-se utilizar interferência por RNA para "desligá-los" (por isso este tipo de mecanismo é conhecido como PTGS: Post-transcriptional gene silencing; porque, na verdade, o gene é silenciado no seu mRNA, ou seja, após a transcrição da mensagem do DNA em RNA)

Nesse site tem animações bem interessantes sobre o RNAi, e diversas informações.

Aqui você pode ver outras informações legais sobre o assunto. É desse site que vem o esquema do post.

E aqui você pode descobrir o que as petúnias tem a ver com tudo isso.

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