segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bem mais que o sonho

Simplesmente acho que não ia aguentar passar por uma experiência como a organização da XIII Reunião Acadêmica de Biologia da Unisinos sem deixar aqui umas frases soltas que fosse. 


No longínquo 2009, quando essa que vos fala foi monitora da 12ª edição do evento, só o fato de dar um mínimo auxílio já foi excelente. Desta vez, entretanto, quis me meter nas trincheiras. Essa vontade foi disparada por diversas válvulas, sendo este blog certamente uma delas. Acreditem, meus queridos, que por mais empoeirado que esta estante de pensamentos possa se mostrar atualmente, ela representa ainda minhas parcas tentativas de levar à quem for ler um pouco de amor pelo conhecimento, um pouco de entusiasmo e um tanto de ciência também. Descobri que, além de amar Ciência, eu amo dispersar essa bonita. Aliás, acho que ela só pode receber essa alcunha mediante a dispersão. Já tanto falamos... de que adiantam artigos publicados, se ninguém souber ao menos se localizar quando tu falar de neutrinos, nichos ecológicos, galáxias e parasitas moleculares?
Como eu disse das válvulas, certamente outra delas foi a oportunidade de fazer isso dentro de um grupo simplesmente brilhante, que não são só colegas, mas amigos do peito... os meus queridos "star broz" Gabriela, Fernando, Felipe e Guilherme. Quando tu vê o mesmo entusiasmo em olhos alheios, a conexão se torna evidente, a vontade aumenta, e os resultados são sempre melhores. Sem eles e toda a super comissão de apoio (para citar a Letícia, a Marina, o Gustavo, e meu querido namorado Matheus, que usou suas super design skills para dar todo o brilho aos nossos cartazes), nada disso teria saído do mundo das sinapses, tudo poderia ter ficado perdido na poeira das ideias.
Queria aqui deixar explícito todo o meu agradecimento pela oportunidade de ter feito parte desse pedacinho da história do nosso curso, por ter podido contribuir com ideias, emails, contatos... por ter recebido tanto apoio, tantos sorrisos... e a melhor coisa de todas: ter visto a alegria nos rostos dos alunos do curso. Afinal, o evento foi feito pra eles!! Para aqueles que estão começando sua caminhada dentro da Biologia, tentamos dar um boost de energia nos esforços e ideias e maluquices.
Obrigada star brozes, obrigada palestrantes, ministrantes, alunos, povo que só queria coffee break (rá), obrigada a todo mundo que deixou sua impressão nesse momentum! A Semana Acadêmica certamente vai ficar marcada pra sempre na minha memória. 
Aí vão algumas fotos satisfatórias da nossa semana... vai deixar saudade!

Queridões Fernando e Felipe, na abertura do evento.


Comissão organizadora com os palestrantes da primeira noite (2012: Astrobiologia, Uma Odisseia no Espaço), Luiz Leitão da Silva e Jorge Quillfeldt, além do professor Hector Noblega, coordenador do curso.


Astrobiologia em "muitas palavras", por Jorge Quillfeldt.


Mateando, ouvindo e pensando :D


No RABU também tem comidinhas e bebidinhas ^^


Mesa redonda sobre Mudanças Climáticas e seus Impactos sobre a Biodiversidade, com os professores Larissa Oliveira, Gerhard Overbeck e Francisco Aquino. (e o star broz Gui dando o ar da graça na escuridão bem à esquerda).


Marina, Fernando, Felipe, eu e a Gabriela. Faltou o Gui, mas ele teve lugar de destaque na foto anterior :)


"Comissão de apoio" (Marina, Gustavo e Letícia), brilham muito na quitanda de camisetas (e em todo o resto, rá).


Matheus total forever alone no final da palestra. Esse é de fé! <3


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Parasitas e viajantes, de embriões ao universo

ResearchBlogging.org
São incontáveis os momentos em que imagens dizem bem mais que falatórios, quando poesia se forma nos olhos, vai pra mente, e lá flutua. Do embrião ao universo, das viagens neles e também nos neurônios, as infinitas formas de grande beleza parecem não cansar de causar surpresa. Mas eu não me importo com esse tipo de cansaço :)

Bem mais que história, os buracos negros parecem parasitas das galáxias..

Enquanto isso, Wolbachia, uma parasita bem menor, mas não menos poderosa, faz a festa pintando um mosaico na galáxia de um embrião de Drosophila. Esse mosaico vai poder viajar para muitas gerações depois que esse embrião virar adulto, ou ainda ser transferido no melhor estilo mochileiro para viajantes de táxons distantes

Se parasitas podem viajar, também o podem fazer os pensamentos, histórias e memórias, mas dessa vez num mosaico diferente, como esse emaranhado de neurônios de rato.

Já outro parasita, Litomosoides sigmodontis (filária, causadora da filariose), consegue descrever um caminho bonito e satisfatório pelas ruelas do sistema linfático de um não tão feliz camundongo.

Sobre a beleza das coisas, e a facilidade de se surpreender diariamente.


Guia de viagem:

Zabalou, S., Apostolaki, A., Pattas, S., Veneti, Z., Paraskevopoulos, C., Livadaras, I., Markakis, G., Brissac, T., Mercot, H., & Bourtzis, K. (2008). Multiple Rescue Factors Within a Wolbachia Strain Genetics, 178 (4), 2145-2160 DOI: 10.1534/genetics.107.086488
Foto dos neurônios por Gabriel Luna , do Neuroscience Research Institute da UC Santa Barbara, California.
Foto da filária no sistema linfático por Witold Kilarski, lá da minha querida École Polytechnique Fédérale de Lausanne.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O RNA se acha o tal, mas não é à toa!

ResearchBlogging.org
Da forma meio aleatória que as coisas acontecem na vida, posso dizer que meu ingresso no mundo da ciência se deu de uma forma bem orgânica. O que primeiro era apenas curiosidade pela vida e as formas e a beleza das coisas, evoluiu para um lugar à bancada de um laboratório, e as roupinhas de menina sujas de lama e folhas foram substituídas por um jaleco que eu tento manter limpo.
O que essa introdução bem tola pode ter a ver com RNA? Bom, se de forma natural o "Universo conspirou" para eu usar um jaleco, de forma talvez um pouco contrária o tal do ácido ribonucleico parece ficar lutando sempre por um espaço no meu pensamento (não que qualquer molécula linda dessas precise de mim ou de qualquer um de nós para mostrar toda sua beleza). Não que eu fuja de RNAs, pelo contrário. O que quero dizer é que eles constantemente tem chamado minha atenção, e em alguns momentos dos últimos anos eu pude dedicar algumas boas horas de fosfato para entender eles melhor.
De qualquer forma, ano passado mesmo eu li o artigo "RNA in pieces" (RNA em pedaços), que Tuck e Tollervey publicaram na Trends in Genetics (referência abaixo). Se minhas parcas esperanças de um dia rever a possibilidade de um conceito robusto de "espécie" já há muito haviam ido com o vento, a leitura desse artigo só fez cair por terra mais um conceito que nossos mestres tentam nos enfiar guela abaixo: o de "gene". Ele continua sendo aquele pedaço de DNA contendo informação criptografada na forma de nucleotídeos, mas o turbilhão de coisas diferentes que podem advir daquela sequência é uma coisa no mínimo satisfatória. Por que? Bom, é aí que entra o RNA, que pode ser taxado de presunçoso ou qualquer coisa do tipo, mas ele realmente arrasa. Entre o momento da transcrição do gene em um RNA até a proteína formada, muitos são os percalços que podem fazer esse RNA ser modificado, recortado, remontado, reposicionado e vários "re-" à sua escolha. Não estranha-se que a proteína final pode ser bastante diferente do que seria imaginado pelo tal GENE inicial, então né... mudanças de conceitos, amigos!
Isso tudo pra falar de um estudo que foi publicado na Science agora em janeiro de 2012 pelos pesquisadores Sandra Garrett e Joshua Rosenthal. O foco dessa vez? RNA também, porém do polvo antártico (esse bonito aí).


Os autores viram que os polvos vivendo em regiões próximas ao continente antártico não tinham aparentes problemas em sobreviver por lá, apesar de ser sabido que proteínas do sistema nervoso são bem sensíveis ao frio. Verificando possíveis alterações que possibilitassem essa adaptação, os autores deram uma checada em uma dessas proteínas, do canal de potássio, e a primeira ideia foi, como de praxe, que o gene contendo a informação para esta proteína fosse diferente do encontrado nos polvos de regiões tropicais, por exemplo. Eles esperavam encontrar algum código que, no final, gerasse uma proteína mais eficiente no "freezer".
Entretanto, ao comparar as sequências do gene encontrado no polvo antártico e em outro polvo encontrado em um recife de Porto Rico, eles viram que era a mesma! Os pesquisadores então migraram para o mundo do RNA, e perceberam que, no polvo antártico, o RNA mensageiro proveniente daquele gene era editado em 9 pontos diferentes, de forma que a sequência de aminoácidos resultante era alterada, e o canal de potássio se fecha mais rapidamente, independentemente das temperaturas frias.
Mais esse estudo mostra o poder de adaptação que a edição de RNAs pode conferir a um organismo.O querido deve até estar pensando algo tipo "touchè"! E não duvido nada que o DNA esteja ficando levemente emburrado...

Não que esse post tenha qualquer coisa a ver com ursos polares, muito menos que eles possam ser vistos na Antártida. Mas acho que de frio eles entendem também, né?




Referências:
Tuck, A., & Tollervey, D. (2011). RNA in pieces Trends in Genetics, 27 (10), 422-432 DOI: 10.1016/j.tig.2011.06.001
Garrett, S., & Rosenthal, J. (2012). RNA Editing Underlies Temperature Adaptation in K+ Channels from Polar Octopuses Science DOI: 10.1126/science.1212795