terça-feira, 17 de novembro de 2009

Evo-Devo pt 1: Explosão Cambriana (The Beauty gets Freak)

A "Explosão do Cambriano" ocorreu no período entre 543 e 506 milhões de anos, e é assim chamada porque, nesse piscar de olhos geológico, surgiram praticamente todas as linhagens de filos animais hoje existentes. Observando-se o registro fóssil, antes desse período (por volta de 565-544 milhões de anos atrás), dominavam esponjas, celenterados e ctenóforos. Enfim, animais de tamanho pequeno e morfologia simples (assimetria ou simetria radial), que podem ser observados nos fósseis da Fauna de Ediacara (como os representados na gravura abaixo).


Em contraste a esses registros, a maravilhosa Fauna de Burgess Shale (de pleno Cambriano: 520-515 milhões de anos) é um verdadeiro paraíso de registros de animais com formas complexas, grandes e de simetria bilateral, onde a maioria das linhagens ricas em espécies animais atualmente existentes estão presentes. Dêem uma olhadinha no astrombólico Marella, da figura abaixo, um dos representantes mais comuns de Burguess Shale da metade do Cambriano, para terem uma ideia da complexidade destes senhores.

Assim, embasado nas evidências disponíveis, pode-se dizer que os membros mais antigos de praticamente todas as linhagens animais apareceram de forma relativamente súbita no registro fóssil, ao mesmo tempo, em diferentes partes do globo.
Entretanto, um passo importantíssimo para a derivação de formas animais complexas, a simetria bilateral, hoje sabe-se surgiu no período pré-Cambriano, como pode ser visto nos embriões fossilizados bilaterais da formação Doushantuo (635-551 milhões de anos) e outros organismos semelhantes a artrópodes, como Kimberella (foto abaixo), também do período anterior ao Cambriano.


Este fato gerou uma reviravolta no conceito de Explosão Cambriana, que agora parece ter sido mais uma explosão de diversidade morfológica, e não necessariamente de linhagens, visto que essas ocorriam antes. Sendo sssim, a explosão trouxe uma variedade de planos corporais e morfologia, mas a irradiação destes bilatérios provavelmente foi conduzida pelo modo de vida dos organismos: aumento de oxigênio dissolvido e consequente aumento da taxa metabólica possibilitaram corpos maiores e mais complexos, aptos à exploração de novos nichos ecológicos.


Mas... cá com nossos botões, para haver a tal explosão morfológica, a maquinaria necessária para sua produção deveria estar guardada naqueles vermes bilaterais simplórios, mesmo que não estivesse mostrando todo seu esplendor em seus possuidores.
Essa maquinaria, hoje se sabe, é um arcabouço genético intrincado e complexo, comum a todos os animais, e possibilitou a "invenção" destas infinitas formas de grande beleza.
E esse arcabouço hoje recebe o nome de Caixa de Ferramentas Acidental, ou o Kit de Ferramentas Genético que, me perdoem meus caros leitores, vai ficar para o próximo post, senão vocês vão ficar de mal comigo :)
Está combinado então que a Trilogia Evo-Devo a partir de agora será uma Quadrilogia!
O próximo post será sobre o Kit de Ferramentas, aguardem!

Eu usei dados retirados dos livros:
- Análise Evolutiva, de Scott Freeman & Jon Herron (4ª edição, Artmed, 2009)
- Infinitas Formas de Grande Beleza, de Sean Carroll (Jorge Zahar Editor, 2006)

O Fantástico Mundo da Evo-Devo

Resolvi, meus caros leitores, me dedicar a escrever sobre um assunto que "entrou" na minha vida recentemente, e que me encantou por completo: a Evo-Devo (apelido carinhoso para Evolução do Desenvolvimento).


Como o assunto é deveras extenso, e eu jamais conseguiria abranger tudo, resolvi que farei uma "trilogia", se assim posso chamar, sobre o tema. Uma parte introdutória, com pinceladas sobre as maravilhas da Explosão do Cambriano e a descoberta do Kit de Ferramentas Genético, e depois dois posts separados sobre dois genes do Kit. Vou tentar não me ater aos clássicos Eyeless e os mutantes Antennapedia, para falar um pouco de casos não tão divulgados.
Pelo menos é essa minha intenção.
Meus queridos, sejam bem-vindos ao Fantástico Mundo da Evo-Devo.

A bela imagem retirei daqui.

Quem tiver interesse de ir lendo sobre o assunto, tem esse blog que só fala dele!!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Compreensão pública da Ciência

Aconteceu ontem à noite, durante as atividades da XII Reunião Acadêmica da Biologia da Unisinos (RABU) um painel discussivo sobre um tema extremamente pertinente a esta tela que você visualiza no momento: a compreensão pública da ciência.


Gostaria de deixar aqui meu agradecimento e reconhecimento do esforço e dedicação dos três palestrantes da noite: meu querido colega e amigo, L. Felipe Benites, que discursou com maestria e humor o entendimento (talvez não entendido) da ciência na mídia; o agitado e falante Reinaldo José Lopes, jornalista da Folha de São Paulo, que mostrou os "conflitos" entre Darwin e o público; e a Fernanda Poletto, dona de uma meiguice assustadora, que discutiu sobre o mini-mundo da nanotecnologia e o que o público acha dela.

Quem quer que leia este blog, deixo aqui o meu recado: vamos expandir essa rede de conhecimento, vamos tirar a ciência deste cubo de gelo, desta rede intrincada e acadêmica.
O nascimento do conhecimento até pode se dar na academia, mas ele de nada adiantará se nela ficar preso.